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quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Pensamos como podemos ou como queremos?

Autor: Celso Vitale
Inspetor da Guarda Civil Metropolitana de São Paulo

Participei da missa em Ação de Graças aos 24 anos da GCM, no mosteiro São Bento, onde, novamente, pude constatar que a Instituição, é muito maior do que vontades pessoais, direcionamentos sazonais ou interferências externas. A GCM é única, não somente pelos detalhamentos de sua existência, localização, etc, mas sim por suas características que se fundem as necessidades e expectativas do movimento histórico-evolutivo da sociedade. Sociedade esta que fornece a matéria prima de nosso efetivo.

Durante estes 23 anos em que faço parte da Instituição, pude perceber o quão diferente foram as formações profissionais dos seus integrantes, os direcionamentos políticos e também o quanto mudou essa sociedade, da qual fazemos parte, servimos e somos servidos. Os integrantes, ao longo da história, se modelaram ao perfil sazonal da Instituição. Expectativas, ideais, atuação, visão de futuro e ação no presente, se desenharam em acordo a esses momentos. A evolução faz parte de todo o processo, porém, a indefinição, ou a vulnerabilidade institucional aos fatores exógenos, certamente produziram mais dificuldades do que avanços.

É ímpar e especial a emoção que se tem ao compreendermos e reverenciarmos todo o esforço despendido em prol da Instituição, na defesa de seus valores, na crença eterna de sua própria remissão. O Abade que celebrou a missa, Dom Mathias Tolentino Braga, focou e ressaltou a importância de agradecer sempre as pontuais oportunidades que se estabelecem dia a dia, mas que infelizmente não percebemos e valoramos.

Bem sei que somos imperfeitos, eternos insatisfeitos e que buscamos sempre algo mais que complemente as nossas perspectivas terrestres de ambição material. Mas será que sabemos, ou percebemos o quanto nos é oferecido? (Ação de Graças) em agradecimento ao que recebemos dia a dia? Será que conseguimos, apesar de tantas dificuldades, percebermos os avanços, e principalmente o campo de hipóteses que se abrem às Guardas Municipais como um todo em nosso país? Como destaca um certo texto, crônica de sabedorias cotidianas, “..ninguém dá importância a arvore que não produz frutos...” “somente aquelas que produzem frutos é que se vêm apedrejadas..” (para que estes caiam), embora até estas (não produtoras de frutos) sejam obras divinas e tenham importância no ecossistema. Então, se as Guardas são tão importunadas por integrantes de uma certa concorrente, é porque estes sabem de sua importância, capacidade e espaço de atuação.

Em tempos de democracia, sabemos quão difícil é o seu processo de maturação e resultados, que passam por candidatos “Tiriricas” e dólares na cueca (corrupção: principal fator de descrença e ineficiência do poder do Estado), mas, uma coisa é certa: a população de modo geral vem aprendendo a não tolerar, a reagir contra desmandos e abusos cometidos pelos agentes públicos e para tanto as Instituições que sempre se prevaleceram da força e da imposição coercitiva, estão “aprendendo” a lidarem com o necessário estrito cumprimento do dever legal, do respeito aos direitos individuais, do respeito no tratamento para com o cidadão. Esse é o caminho: atender aos nossos clientes na forma que (estes) gostariam de serem atendidos, dentro da legalidade, tal como nós gostaríamos enquanto cidadão, contribuinte, munícipe dessa imperiosa metrópole.

E, dentro de todos os fatores de evolução, certamente a Aposentadoria Especial, tão comentada em diferentes círculos, deve ser apenas o fechamento de um processo completo de eficiência, dentro de uma carreira almejada, valorizada, feliz, que traga a possibilidade de construção de uma vida saudável as nossas famílias, culminando em resultados positivos para toda a sociedade. Nem alívio, nem fator único de motivação ou esperança, mas sim, reconhecimento e descanso merecido, proporcional aos riscos e sacrifícios vivenciados.

Uma coisa parece certa, pelo menos a mim. Não haverá solução mágica nem tampouco heróis, mártires que possuam tais soluções mágicas, e que preferencialmente possamos esperar em berço esplêndido seus resultados. As mudanças começam em cada um de nós (individualmente). Certamente podemos escolher em sermos partes dentre os que fazem e se importam (otimistas), dos que nada fazem e ainda criticam aos que fazem (pessimistas) ou talvez dos que esperam soluções mágicas, certamente do céu, sem esforço, sem sair da zona esplendorosa do conforto. Estáticos, estes fazem parte da paisagem...

Enfim, nesses 23 anos de serviço, e por tudo isso que não é pouco, agradeço muito tudo aquilo que a Guarda Civil Metropolitana propiciou em minha vida, direta ou indiretamente. Por minhas conquistas, faculdade, posses (modestas, mas, honestas) erros e acertos, conseqüências da postura escolhida. Por tudo isso, dou graças, e sinceramente, se tivesse escolha, de voltar no tempo, eu faria tudo de novo, tudo outra vez.

5 comentários:

  1. São textos com esta profundidade e qualidade que nos motivam e propiciam uma reflexão no sentido de pensarmos que o caminho correto está sendo trilhado.
    Enfim, somos precursores de conceitos como a cidadania e prevenção. Bem como há dogmas constitucionais, inseridos nos direitos individuais e coletivos, cultivados e aplicados em nossa corporação.
    Parabéns e que colabore mais vezes neste espaço.

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  2. Se todos tivessem a sensibilidade de sentir tudo isso, todos os dias seriam melhores a todos os integrantes, mais fico feliz em conhecer um que tenha e transmita um pouquinho de sua sabedoria aos demais, Obrigada me serve de espelho e força nas dificuldades.

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  3. Não sou um dos pessimistas, mas vocês já pararam para pensar para onde estamos nos dirigindo, ou somos dirigidos? Enfim, sinto orgulho de fazer parte desta família...Sabe o mais engraçado, meu falecido pai, era da antiga Guarda Civil, após a unificação em 1970, com a antiga Força Pública, chegou até a patente de 2º TEN. e nunca quis que nenhum de seus cinco filhos seguissem seus passos, pois sabia que teria de matar um leão por dia, pois já naquela época havia muitos discursos, retóricas... Mas a pergunta é o que fazemos de concreto para sairmos da atual situação que nos encontramos, pois bem 24 anos, tenho 07 de corporação, e ao longo desse tempo tenho ouvido muito, mas pouco se faz, pouco se luta para sairmos desse desconforto de olharmos e vermos que para essa ou aquela gestão não passamos de números, e massa de manobra, pois em uma gestão somos profissionais de segurança em sua totalidade, já em outra o que somos?
    Parem e pensem para onde somos conduzidos? Somos realmente enquanto servidores, respeitados pelo que representamos e pelo que podemos fazer por aqueles que necessitam de nossos serviços? Qual a mensuração da vida humana e de sua dignidade? Alguns reais? Ou motivação, qualidade das instalações e equipamentos, não são nada...
    Parem e pensem.....

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  4. Exatamente. As retóricas, os discursos são inerentes as vaidades pessoais. O interesse coletivo está, e deve estar acima disso tudo. Precisamos buscar o equilibrio. Nas ações, no conhecimento, e na remissão dos nossos próprios pecados. Não é possivel cultivar arroz no sertão, assim como outras espécies em terrenos impróprios a sua cultura. Tudo o que prospera, negativo ou positivo, têm um "terreno" que incentive a sua prospecção. O texto fala sobre isso. Assim como não há soluções mágicas e martíres que mudem tudo, os problemas têm raiz também em um amplo solo de responsabilidades. Saibamos cada um, o quanto somos responsáveis por isso. Na ação, ou na omissão...

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  5. Precisamos parar de servir a gestão e passar a servir a população da cidade de São Paulo, mas antes temos que responder uma pergunta: O que a população da cidade de São Paulo espera de "sua" Guarda Civil Metropolitana?
    A facilidade ou não de responder a pergunta dependerá de o quanto estamos próximos ou afastados das comunidades.

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