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quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Livros para quem não pode ler

O Brasil esteve por muito tempo à frente de outros países da América do Sul quando o assunto era assistência aos cegos. Em 1854, a cidade do Rio de Janeiro foi pioneira na readaptação dos deficientes visuais, tendo criado o primeiro Instituto de Cegos da América do Sul, hoje conhecido como Instituto Benjamin Constant.

Do século XIX para cá, diversos avanços ocorreram, mas não o suficiente para integrar por completo o portador de necessidades especiais a todos os espaços sociais. Segundo dados do último censo do IBGE, realizado há nove anos, os deficientes visuais somam mais de 16 milhões da população brasileira.

O quadro não é muito animador. Em pleno século XXI, os meios de comunicação mostram ter muita dificuldade em adaptar a sua programação não só a deficientes visuais, mas também auditivos. Quantos canais abertos de televisão utilizam legendas? Quantas editoras se preocupam em fazer versões em áudio de seus livros? Quantos jornais impressos oferecem as suas notícias em áudio? Quantos filmes fazem versões audiodescritas?

Com a proposta de criar oportunidades, autonomia e independência para os cegos, associações e ONG's têm investido cada vez mais na inserção social dos deficientes visuais.

Uma dessas instituições, a Audioteca Sal e Luz, criada em 1986, é especializada na produção de audiolivros para cegos e deficientes visuais. Localizada num antigo sobrado da rua Primeiro de Março, centro do Rio de Janeiro, a Audioteca conta hoje com mais de 2700 títulos, gravados com a ajuda de leitores voluntários, e atende à quase 2.000 deficientes.

Sérvio Túlio Cardoso, administrador da Audioteca, diz que a procura maior está no gênero literário, embora o acervo de livros didáticos também seja rico. "A questão didática vai muito da necessidade dos cursos e concursos que eles estejam fazendo", salienta Cardoso.

Os audiolivros podem ser enviados para qualquer lugar do país sem custo para o deficiente. Marcos Bittencurt, coordenador do curso de capacitação de ledores da Audioteca, destacou que a qualidade da gravação é um fator secundário: "Ainda hoje, a qualidade não é o mais importante. O interessante é que ele tenha o material para estudar, ler e se apoiar".

Não só para cegos

A popularidade dos audiolivros não está só entre aqueles que sofrem algum tipo de deficiência visual. Pensando na correria da vida moderna, na dupla jornada de trabalho e no imediatismo da informação - quando muita gente troca a leitura convencional de um livro pelas telas (da televisão do computador) -, as editoras de livros têm investido cada vez mais nos audiobooks ou livros falados. Nesse caso, geralmente, o narrador é profissional, que enriquece o texto com sua interpretação.

Induzir o ouvinte a interpretar o texto de acordo com as intenções do narrador é uma das críticas a audiolivros. Bittencurt, que faz a capacitação dos ledores voluntários na Audioteca, defende moderação da inflexão durante a leitura com atributo para que o ouvinte não seja sugestionado: "Nem pode ser uma leitura monocórdia, rígida, nem pode ser dramatizada. O ledor tem que entender o espírito do autor e ser uma ponte o mais transparente possível" explica.

Apesar dessa advertência, a leitura branca, sem nenhum tipo de interpretação, não é a opção preferida de muitos ouvintes e ledores. O radialista Milton Schinca, ledor da Fundação Braille do Uruguai, escreveu um artigo intitulado "Confissõe de alguém que lê para cegos", no qual defende que o ideal não é dramatizar o texto, mas torná-lo, agradável para quem escuta. "A leitura branca logo se toma tediosa e, talvez, não seja tolerada por muito tempo", diz Schinca.

Embora sejam de diferentes países, Bittencurt e Shinca compartilham da mesma opinião em relação à necessidade de uma inflexão moderada ao longo do texto. O trabalho de gravação de livros pode durar meses ou até anos, tudo depende da disponibilidade do ledor quando, se trabalha com voluntariado, e do número de páginas do livro.


Para saber mais

Audioteca Sal e Luz
Endereço: Rua Primeiro de Março, 125
7º andar - Centro - Rio de Janeiro - RJ Tel: (21) 2233-8007

Associação Fluminense de Amparo aos Cegos
Endereço: Padre Leandro, 18- Fonseca- Niterói-RJ
Tel: (21) 2717-2822

Instituto Benjamin Constant
Endereço: Avenida Pasteur, 350/368 -Urca - Rio de Janeiro - RJ
Tel: (21) 3478-4400

Rádio Legal -"Uma rádio feita por cegos"

Midiace - Associação Mídia Acessível

Audiolivraria do Brasil
Tel: (21) 4063-4909

Extraído do Portal Sal e Luz.

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