Bacharel em Direito pela Universidade São Francisco
O Brasil nas últimas semanas parecia o país da maconha, deixamos de lado as preocupações com saúde, educação, segurança, transporte público, habitação, emprego, até mesmo o atraso nas obras para Copa do Mundo de 2014, os casos de corrupção envolvendo políticos, policiais criminosos, nada que fosse mais importante que as discussões sobre a maconha.
Intrigante é a postura de alguns políticos, a do Ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso é de difícil compreensão, pois ao longo de seu Governo (1995/2002), pouco se caminhou para o debate sobre o comércio de drogas e comércio de armas, porém, após quase uma década do fim de seu mandato, surge com propostas que saíram de uma caixa de mágica, talvez por ter se cansado de ficar a sombra do ostracismo político, sendo um renegado em seu próprio partido, do qual é fundador, soa como uma medida desesperada para resgatar seu papel na história.
Muito barulho foi feito em razão de seu manifesto “O papel da oposição”, quando a mídia e os políticos direcionaram a discussão em que a oposição deveria renegar os movimentos sociais e o povão, que sofrem influência direta do Partido dos Trabalhadores, ou seja, do Partido do Governo, mas talvez essa seja a mais importante conjectura proposta, pois a grande massa trabalhadora pouco evoluiu ao longo dos últimos 20 anos, muito se confunde a evolução natural das coisas em relação à tecnologia do que políticas públicas sociais, pois continuamos penando com sistemas de educação, saúde, emprego, segurança, habitação transporte público precários, mas essa é outra discussão.
Em seu manifesto Fernando Henrique Cardoso aborda a questão das drogas propondo a seguinte premissa:
“Há casos nos quais a regulação vale mais que a proibição: veja-se o tabaco e o álcool, ambos extremadamente daninhos. São não apenas regulados em sua venda e uso (por exemplo, é proibido fumar em locais fechados ou beber depois de uma festa e guiar automóveis) como estigmatizados por campanhas publicitárias, pela ação de governos e das famílias. Não seria o caso de fazer a mesma coisa com a maconha, embora não com as demais drogas muito mais danosas, e concentrar o fogo policial no combate aos traficantes das drogas pesadas e de armas? Se disso ainda não estivermos convencidos, pelo menos não fujamos à discussão, que já corre solta na sociedade. Sejamos sinceros: é a sinceridade que comove a população e não a hipocrisia que pretende não ver o óbvio.”
Legalizar a maconha para concentrar fogo aos traficantes de drogas pesadas e armas?
Por mais que tente, não consigo entender a proposta, pois será que existem somente traficantes de maconha?
E que esses não usam armas de fogo?
Não há viciados em maconha?
Neste caso há comoção, hipocrisia ou realidade?
Eis que surge a discussão sobre a Marcha da Maconha, em que nossa Suprema Corte se manifesta num espetáculo de metáforas em que a liberdade de expressão é soberana, em que o incentivo ao uso das drogas não é considerada apologia a violação da proibição encartada no tipo penal, mas a legalização não é para o uso?
Defender que a maconha não faz mal a saúde, inclusive pode ser utilizada para fins medicinais, podemos ter esses mesmos argumentos para a pasta de coca? Podemos defender a legalização do Chá de Coca, comumente utilizado por nossos vizinhos sulamericamos?
A flexibilização ou atualização da legislação sobre drogas que buscou tratar o consumidor de drogas de forma diferenciada, não sendo mais um criminoso, mas um doente, provavelmente permitiu que mais pessoas ingressassem no submundo das drogas, pois seriam usuários e não violadores da lei, sendo que seus defensores apregoavam que não adiantava lotar as cadeias de drogados, o que vimos foi à criação de um exército de viciados que agonizam nas principais ruas do país, representando a destruição de várias famílias.
Alguns políticos embarcam na mea culpa, propondo a internação compulsória dos usuários de drogas, mas se nossa Suprema Corte indicou que devemos defender a liberdade de expressão, não devemos defender da mesma forma nossa liberdade como um todo?
Não bastasse toda essa discussão, eis que surge novamente Fernando Henrique Cardoso com seu documentário “Quebrando o Tabu”, o paladino da política sobre drogas, descobre algo que ninguém tinha conhecimento que há falhas no combate ao tráfico de drogas, parece que ninguém lê no mundo, a zombaria é afirmar que com a liberação das drogas tudo isso acaba.
Felizmente, temos vozes corajosas como de Ronaldo Laranjeira, Psiquiatra e fundador da Unidade de Pesquisas em Álcool e Drogas, que não apóia a flexibilização das leis sobre drogas em nosso país, que participou da matéria “A voz contra a liberação” da Revista Veja São Paulo, em complemento da matéria “As prisioneiras do crack” da Revista Veja – Ano 44 – nº 25 – de 22 de junho de 2011.
Destacamos outra voz corajosa, a do Doutor Archimedes Marques, Moderador do Portal Folha do Delegado e colaborador do Blog "Os Municipais", que tem alertado constantemente sobre a importância da racionalidade na discussão deste tema tão devastador.
Caminhamos muito quanto à diminuição ao uso de tabaco, engatinhamos quanto à diminuição ao uso do álcool, não podemos retroagir inserindo drogas como a maconha nesse contexto, não há glamour na utilização de drogas.
Temas dessa natureza não devem ser tratados exclusivamente pelos políticos e pela Suprema Corte, mas sim através de consulta popular, quando a vontade da maioria prevalecerá, um dos fundamentos da democracia, uma verdadeira quebra de tabu.
Precisamos de cautela ao propor mudanças na legislação, não podemos esquecer de Montesquieu em sua obra "O espírito das leis", que deve atender ao bem maior e não a interesses individuias
ResponderExcluirA discussão não deve ser tratada com preconceito, a liberação pode ser uma alternativa a um sistema que não deu certo e talvez diminuir a corrupção que acerca o tráfico de drogas
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