Autor: Marcos Bazzana Delgado
Bacharel em Ciências Jurídicas
Pós Graduado em Segurança Pública
Ao vesti-lo, junto dele, você
carrega o nome da instituição. Os símbolos mais respeitados que ela cultua. O
seu orgulho e as suas virtudes.
A confiança que a instituição
deposita em seu agente ao revesti-lo de seus emblemas mais sagrados exige uma
responsabilidade bilateral – de quem lhe confia o uso, e de quem o veste.
A disciplina institucional tem como
principal foco o zelo pelo seu nome - e compreenda-se aqui como “nome” a
reputação, a história, o prestígio social, a confiança que lhe depositam e as
portas que ela abre.
A disciplina faz parte do
processo de eficiência, é a garantia de um trabalho satisfatório e de qualidade,
além de ser a maior das proteções à imagem institucional.
As Guardas Municipais não são
instituições militares, mas, por usarem uniforme, seguem em sua maioria um
regulamento disciplinar semelhante ao das forças armadas, com vistas a manterem
a disciplina sempre respeitada. E não é por adotarem esses regulamentos que se
tornam instituições militarizadas – longe disso. São instituições civis e ponto
final.
É muito comum encontrar entre
seus integrantes pessoas inconformadas em terem que participar de instruções de
ordem unida, ou de desfiles cívicos, com o pretexto de que não são militares
para se sujeitarem àquela forma de trabalho. Não creio que ao pensar assim
estejam com a razão.
A ordem unida, obrigatória no
serviço militar, não é exclusiva dele. A ordem unida não é um fim em si mesmo.
Não é seu fim o simples treinamento ou o exibicionismo. É mais que isso. Sua
finalidade é a garantia do bom trabalho. Ela tem a função de promover ações
coordenadas a partir de uma voz de comando. Impede a desordem durante a missão
que está sendo executada pelo grupo. Estimulam o espírito de corpo e a unidade
entre os profissionais.
Nos pátios das escolas de
formação, a ordem unida mal empregada acaba por cansar o aluno que, até então,
não encontra sentido naquele treinamento que mais aparenta uma demonstração de
obediência ao executor da voz de comando.
Mas o treino repetitivo ainda
assim é necessário para que se torne um hábito. E a força do hábito nos
condiciona. Ela não nos impede de pensar, não nos aliena, não molda o nosso
cérebro, apenas nossas atividades operacionais, nossas posturas, atitudes e
gestos.
Na prática, nas grandes operações
com maior número de efetivo é onde se enxerga o seu verdadeiro valor. Ela evita
que sejamos um bando, e propicia que nos tornemos um grupo coeso e forte.
Facilita a comunicação e o posicionamento de grupamentos. Define a hora certa
de agir e norteia as atividades a serem seguidas pelo líder e liderados.
E por falar em líder, vamos
discorrer um pouco sobre a hierarquia – sem nos esquecer que o conceito de
disciplina é bem mais amplo do que dissemos acima, e que caberia escrever um
manual inteiro só sobre esse assunto, o que não é a nossa intenção no momento.
Tão confundida e tão usurpada, a
hierarquia já teve seus conceitos deturpados por causa de abusos cometidos em
seu nome.
De uma definição que partia da
necessidade de se estabelecer a ordem de precedência para se traçar e
desenvolver os direcionamentos dos trabalhos e as tomadas de decisões, a hierarquia
já serviu, inadequadamente, como instrumento de perseguição e autoritarismo.
Infelizmente essas ações
desvirtuadas não são exclusivas daqueles que detêm cargos de maior destaque,
isto porque, a hierarquia se estabelece também entre as posições mais próximas
e, quando se permite, até entre pares. Assim, desde o curso de formação, onde
os prontos acabam por abusar da precedência sobre os alunos, passando entre
pares com funções diferentes e o grau de proximidade com as chefias, até a real
diferença de grau de evolução na carreira, a hierarquia pode ser utilizada para
o bem ou para o mal.
E como evitar abusos? Como fazer
valer apenas o bom uso da hierarquia?
A hierarquia é salutar na
humanidade. Ela começa na família, passa pela escola e chega ao trabalho.
Respeitar a hierarquia significa respeitar os poderes constituídos, respeitar a
ordem e cultivar firmes os pilares institucionais.
A hierarquia concede certo poder
ao seu detentor. O poder seduz, confunde e tende a levar o homem ao abuso.
É preciso treinar o equilíbrio e
aprender vencer a sedução. Quanto mais poder se tem, mais equilíbrio é preciso,
e mais disposição de vontade para vencer as paixões ignóbeis.
Uma das formas de promover esse
equilíbrio é praticar uma cultura humanizada no ambiente de trabalho.
O processo de humanização implica
a evolução do homem, pois ele tenta aperfeiçoar as suas aptidões através da
interação com o seu meio envolvente. Para cumprir essa tarefa, os indivíduos
utilizam recursos e instrumentos como forma de auxílio. A comunicação é uma das
ferramentas mais importantes de grande importância na humanização.
A humanização cria condições
melhores e mais humanas para os trabalhadores de uma empresa, utilizadores de
um serviço ou de um sistema.
Sua aplicação é bastante discutida
no âmbito da saúde; nos hospitais e unidades de internação. Ela permitiu um
olhar mais cauteloso sobre a forma de tratamento que vinha sendo utilizada
pelos profissionais da saúde em relação aos pacientes, permitindo um
acompanhamento mais digno a cada um deles.
Esse conceito é perfeitamente
aplicável nas relações de trabalho, sem que se abra mão da hierarquia e da
disciplina.
Ai é que reside o problema. Vemos
muitos saudosistas hoje em dia dizendo que bons tempos eram aqueles onde se
“fazia e acontecia”; onde o regime era duro e não se cogitava a menor
possibilidade de discutir problemas individuais; que hoje existem muitos
direitos e poucos deveres. Tempos em que “o guarda nem tinha acesso ao chefe,
ou se tivesse, falava com ele na posição de sentido – ‘sim senhor’ e ‘não
senhor’”.
Entristece-me saber que ainda temos
alguns poucos colegas que só sabem conduzir sua tropa com o Regulamento
Disciplinar debaixo do braço. Que seu único poder de convencimento é a
“caneta”.
Quando assumi minhas funções de
Inspetor me impus um desafio: Convencer pela lógica; explicar a real finalidade
do trabalho e da necessidade da colaboração do profissional; conhecer os
problemas e as dificuldades de cada um; ouvir quem quer ser ouvido; procurar
entender a realidade de cada um; não ter preguiça de encontrar a melhor forma
de acomodar todos os interesses da equipe, sem comprometer a qualidade do
trabalho; usar o regulamento disciplinar, dentro do que é discricionário da
chefia, somente para casos dolosos, em condutas de má fé, quando o profissional
optou pelo erro mesmo tendo à sua volta a devida orientação e a possibilidade
do acerto. Optei por me colocar entre meus subordinados e meus superiores como
um mediador, trabalhando para que as determinações superiores fossem seguidas,
mas intercedendo por melhores condições ao grupo de colaboradores.
Aparentemente o resultado foi
maior que o método tradicional. Já trabalhei em lugares sob o crivo de métodos
arcaicos, como subordinado do titular, onde eu pouco podia opinar, e o grau de
satisfação da tropa era baixo e, como conseqüência, o serviço não ia bem. Tive
a oportunidade de chefiar esse mesmo lugar, logo em seguida, e mudar a “cara’
dele, tornando-o mais saudável, mais humano e produtivo.
Pode até ser que na tentativa de acertar acabei cometendo erros, e com eles ter desagradado pessoas. Mas, quem é 100% perfeito e infalível? Ninguém. O mais importante é reconhecer isso, e se inclinar a mudanças. Mudar o pensamento, ter mais humildade e aprender com bons exemplos. Isso é evoluir como profissional e como homem.
Disciplina, Hierarquia e
Humanização não são termos antagônicos. Fazem parte de um mesmo processo de
construção de uma instituição melhor. Ter essas diretrizes, saber conjugar
esses três termos em uma só ação pode ser o melhor caminho para se criar uma administração
saudável, eficiente e eficaz.
Vivemos tempos de aprimoramento e
mudanças. Aproveitem essa oportunidade. Fica aqui me conselho: Leiam muito,
debatam com os colegas. Estimulem a tolerância, o respeito às opiniões
contrarias. Aprendam a conviver com as diferenças. Se livrem dos vícios.
Cultivem a virtude.
Vejo todos os dias em redes
sociais declarações de amor à profissão Guarda Municipal. Então, que façam valer
esse amor, cuidando melhor dos profissionais com quem passamos a grande parte
da nossa vida.
Boa dia!
ResponderExcluirInspetor Bazzana,
Excelente artigo, a trilogia “Disciplina, Hierarquia e Humanização” disposta deve ser sempre cultuada, só assim teremos uma Instituição unida em prol de um objetivo comum, que é obter a credibilidade de nossos clientes, seja interno ou externo, e o respeito político social que merecemos. Com ações humanitárias, partindo primeiramente do interior de nossa casa, poderemos olhar para um horizonte melhor para os integrantes de nossa Instituição.
Obrigado Rocha! Já estamos com saudades das suas importantes contribuições neste blog.
ExcluirParabéns! O senhor é realmente uma pessoa que merece carregar estes barretes...excelente matéria.
ResponderExcluirObrigado!
ExcluirInspetor Bazzana, parabéns!!!!! Excelente publicação, continue assim, temos orgulho de tê-lo como amigo e companheiro de luta. Um grande abraço!!!!
ResponderExcluirObrigado Ana. Esse seu reconhecimento nos estimula a continuar assim. Um abraço!
ExcluirCaríssimo Bazzana.
ResponderExcluirEsse é o caminho que devemos seguir para a construção de um conceito moderno sobre a prática da hierarquia e disciplina aliada a humanização.
Incentivar o trabalho em grupo, aproveitando o potencial de cada colaborador (a) em benefício da Organização Guarda Civil, sem cometer abuso de autoridade é uma das virtudes de quem lidera.
Parabéns, sua dissertação foi muito oportuna e vamos continuar na prática dessa filosofia de liderança.
Parabéns a Diretoria do Blog "Os Municipais" pelo importante espaço do Fórum Permanente de discussão sobre Políticas Públicas de Segurança.
Forte abraço. Aldo.
Meu amigo Aldo,
ExcluirComo sempre você tem muito a acrescentar na construção da nossa cultura. Eu o considero um potencial batalhador que atua sem cansar em prol da nossa categoria. Obrigado por ler as coisas que escrevo. Você contribui bastante para o debate.
Estou esperando pelos seus artigos.
Forte abraço!
Hora de almoço para os GCM's escalados 12X36. Não remunerada! Uma hora de almoço NÃO remunerada e que não podia ser "gozada" nem no início e nem no final do expediente. Os guardas escalados em postos não podiam retornar as bases para tirar o uniforme e gozar a sua 1 hora de almoço não remunerada! Na pratica estavam trabalhando 13X36. Um absurdo da era Ortega. Isto ocorreu nas bases subordinadas ao CON. Ortega teve apoio interno de "chefes" para implantar este abuso terrorista. Tá aí uma pergunta que o efetivo subordinado sempre faz: Por qual razão alguns "chefes" cumprem cegamente o que é mandado pela prefeitura por mais que seja ilegal e desfavorável ao efetivo e quando é para cumprir coisas simples como a ordem 007 do comando que é em benefícia do efetivo, alguns, deixo bem claro, alguns, não querem cumprir ou fingem desconhecimento oportuno? Atitudes como as citadas é que fazem com que GCM's sintam-se liderados por politiqueiros alinhados com interesses pessoais e políticos. Pessoalmente conheço bons inspetores, mas eles geralmente não são comissionados chefes de unidades.
ResponderExcluirInfeliz comentário anônimo – fake - sobre a famigerada hora do almoço compulsória!
ResponderExcluirVamos entender o lado didático do blog. Vamos avaliar o espírito dos artigos publicados.
O autor aparentemente convida seus colegas Inspetores a fazerem uma reflexão sobre possíveis correções a eventuais falhas que ainda possam estar existindo no trato com o efetivo. Aparentemente a ideia foi tão somente de ajudar. Contribuir na construção de uma nova Guarda Civil.
Não podemos permitir ataques pessoais nem dar abertura para que o blog se torne um espaço de troca de ataques, um ringue focado na cisão da categoria. Comentários em forma de contribuições são muito bem vindos. Criticas com fundamentos verídicos também. Esse comentário em especial carece de coerência, senão, vejamos:
Hora do almoço remunerada (???). A infeliz ideia do Ortega era que a hora do almoço do 12x36 se tornasse algo oficial (era sabido que todos paravam por aproximadamente uma hora), e havia uma cobrança oficial no sentido de que os guardas não tinham sequer hora de almoço. "Aquela uma hora do almoço não podia ser gozada" (???) ora, a própria CETEL registrava no talão o código para QAR. O guarda parava totalmente, gozava sim daquela uma hora. "chefias cumpriam fielmente" (???) ora, a norma não era ilegal, se fosse, caberia representação - e isso ocorreu, houve uma ação judicial que foi julgada improcedente. Assim, como não cumprir a tal ordem? O sujeito rotula de "abuso terrorista" - o termo é agressivo, incriminador, ofensivo, e muito desproporcional ao fato atacado. Os inspetores tentaram várias vezes mudar a norma. O sujeito fala que o Ortega teve o apoio dos chefes - não teve. Ele chama os inspetores de politiqueiros alinhados com interesses pessoais e políticos – quando acontecem as eleições não são os Inspetores que se lançam candidatos a vereador e deputados, mas sim os guardas – e não há mal algum nisso.
O infeliz desabafo não tem consistência, porque a norma, antes daquela portaria, e agora, não concedia e não concede hora de almoço para os plantonistas, e todos sabemos que eles começam o plantão tomando um café que pode durar entre 10 e 30 minutos, depois almoçam por quase uma hora, e sempre que podem dão uma descansada a tarde. A noite existe o tal quarto de hora. Os Chefes (por ele tão criticados) sempre tiveram tolerância, sempre fizeram vista grossa para esses descansos e paradas não previstas em lei, mas nunca foram reconhecidos positivamente. O anônimo (fake) só olha as coisas negativas – e não olha direito – fala sem saber.
Precisamos abolir a cultura dos ataques infundados, aqueles em que o autor sequer vai pesquisar a verdade dos fatos. Isso não é saudável para a instituição. Assim a gente vai ficar patinando sem sair do lugar. Não é necessário haver separação entre guardas e inspetores. Não é isso que devemos pregar.
A importância dos ataques é diretamente proporcional ao crédito e à fomentação que damos a eles. Os autores escrevem um artigo e colocam a sua assinatura nele.
O anônimo se esconde. Isso não é democracia. Democracia seria a possibilidade do debate entre os iguais. Se nos escondemos no anonimato ou no fake para fazer ataques, podemos falar o que quiser, até mentiras, e o atacado ficará em uma condição de desvantagem, o ônus da prova passará a ser dele (da defesa) não de quem acusa.
Sejamos honestos quando for fazer a crítica, no mínimo, mostrando a cara.
Esta critica será anônima, porque é um repudio à fala do anônimo (fake) para ter o mesmo peso e equilíbrio – de igual para igual – de anônimo para anônimo.